Primeiro e mais importante de tudo é que existe todo um envolvimento emocional completamente diferente nessa relação, que não pode ser substituído por nenhum outro profissional, nem mesmo a doula (assim como o pai/acompanhante também não substitui o papel da doula no evento do parto).
Além disso, para o pai, também é um momento de nascimento. Aquele homem que antes entendia a gestação e a paternidade de uma forma diferente e até algumas vezes mais abstrata do que a própria mulher agora nasce pai. O nascimento de um filho também é um processo de despertar desse ser humano para um novo papel em sua vida! E muitas vezes pode ser um processo que dá medo, gera inseguranças e, também, de muita emoção!
Levando para o ponto mais prático ele vai ser a parte mais racional da mulher ao longo desse processo. O ideal é que esse acompanhante ou pai conheça todos os desejos da mulher e seu plano de parto, para que nos momentos de vulnerabilidade da parturiente ele possa ser seus olhos, ouvidos e boca. Se eu pudesse definir em uma imagem ele seria o protetor da mulher e do bebê em toda a cena do parto!
Ele terá um papel primordial em fazer valer os desejos da mulher para o parto e a recepção ao recém-nascido caso ela não possa assim fazer e entenda que esse papel vai além do puramente filosófico e vai até o nível legal. Caso essa gestante esteja inconsciente ou sem suas faculdades de decisão essa pessoa será a responsável legal por decidir pela gestante.
A presença de um acompanhante de parto reduz em até 43% os sentimentos negativos em relação ao parto, conforme estudo Mothering The Mother de 1993 por Klaus e Kennel.
Entenda que a doula não pode em momento nenhum interferir no processo da equipe de assistência a gestante, nem fazer valer suas decisões perante essa equipe, mas o acompanhante sim. A doula nesse cenário é um ponto de conexão e tranquilidade para a mulher, apoio contínuo a essa parturiente e, também, uma outra fonte de consulta se assim desejarem durante o processo de decisão.
Fora isso durante o processo de entrada no hospital (caso deseje um parto hospitalar) é recomendável que esse acompanhante saiba todas as informações da gestante como data provável do parto (DPP), data da última menstruação, informações de nome, idade e endereção, cuide da parte burocrática de entrega de exames, cartão da gestante e entrada no plano de saúde (se for o caso). Isso é importante para que a mulher não ative tanto sua parte racional (neocortex) e evite uma desaceleração do trabalho de parto durante a entrada no hospital.
Assim a mulher pode se concentrar exclusivamente em si mesma e seu processo de trabalho de parto, se possível em um local mais reservado e sem muitas interferências e distrações. A doula nesse momento é uma ótima companhia para essa mulher.
Ufa, mas fora isso?! O que mais esse acompanhante pode fazer durante o parto?!
Ouvir com atenção
É a principal qualidade que se exige de um homem que vai estar num parto: que esteja atento ao que a mulher diz e ao que a mulher precisa. Só assim poderá se envolver 100% e entregar-se também ao momento.
Se ela pede para abaná-la, abane-a, se ela pede para a ajudar a mudar de posição, ajude-a, se ela pede para se calar, faça silêncio. É como numa dança, em que um (a mulher) conduz e o outro (o homem) acompanha os passos.
Dar a mão
Algumas mulheres gostam de sentir contato físico durante o parto, outras nem tanto. Você pode perguntar durante a gravidez o que ela prefere, mas não se admire se assim que as contrações surgirem, ela mudar de ideia.
Você pode fazer massagens nos ombros para ajudar a descontrair, ou no fundo das costas, perto dos rins, para aliviar a dor das contrações. Pode fazer carinho no rosto ou no cabelo. Beijá-la. Mas eficaz e confortante é, quase sempre, dar a mão. Transmite carinho e apoio e serve, sobretudo, para a mulher apertar (com muita, muita força) durante as contrações, o que ajuda a suportar a dor.
Refrescar e alimentar
O trabalho de parto dá calor, muito calor. A cada contração que invade o corpo, a temperatura parece aumentar. As mulheres que têm oportunidade de andar e estar à vontade acabam, muitas vezes, por se despirem. No entanto, raramente uma mulher termina o parto encharcada em suor, como tantas vezes se vê nos filmes. Mas uma leve brisa fresquinha é sempre bem-vinda.
Você pode oferecer água, abaná-la com um leque, borrifá-la ligeiramente com água, passar toalhas úmidas no rosto ou em outras partes do corpo. Em vez de insistir com perguntas, esteja atento aos sinais e faça apenas o que lhe parecer que a mulher deseja.
Ah! Não esqueça ela pode comer durante todo esse processo, então ofereça a ela alimentos fáceis: chocolate, mel, barrinhas de cereal são ótimas opções!
Proteger
Privacidade e segurança são duas das necessidades básicas de uma mulher para dar à luz. Se a mulher se sente assustada ou observada isso pode provocar o aumento da adrenalina, um hormônio que serve para parar o trabalho de parto em situações de stress ou perigo. Por isso, o melhor é que não haja muita movimentação à volta da mulher. Tente manter o ambiente tão calmo quanto possível.
Certifique-se de que não há pessoas a mais no quarto; fale baixo e apenas o necessário; feche a porta para garantir mais privacidade; diminua a intensidade das luzes para tornar o ambiente mais íntimo.
Conheça o plano de parto de sua mulher e seja um parceiro protetor, garantindo que seus desejos sejam atendidos.
Transmitir tranquilidade
Há ocasiões em que um olhar diz tudo e esta é uma delas. O parto é um dos maiores momentos de cumplicidade e de amor entre um homem e uma mulher. A forma como o homem olha para a mulher pode transmitir uma tranquilidade imensa, o bocadinho de confiança que faltava, a força necessária para a próxima contração. Ou o contrário disto tudo. Se o que mais lhe apetece é sair dali, é melhor que saia mesmo. O medo e o nervosismo podem ser transmitidos sem que haja comunicação verbal e, pior do que isso, são contagiantes. Você também pode sair apenas por uns minutos para tomar ar e voltar depois.
Cinco coisas para não fazer:
Falar demais
É em momentos como este que a comunicação não-verbal assume importância vital. Em vez de desatar a fazer perguntas («o que você precisa?»; «está bem?»; «quer que eu faça isto?»; «quer que eu faça aquilo?»), de dar sugestões («respira»; « calma»; «faça força») ou falar do tempo na tentativa de ajudar a descontrair, procure entrar em sintonia com o que a mulher está sentindo, observando-a.
Para poder entregar-se ao parto, a mulher precisa concentrar-se em si própria, fechar-se do mundo, e qualquer voz, qualquer ruído são um estímulo para o cérebro abrir-se ao exterior. Mas há palavras que, ditas sussurradas ao ouvido, fazem muito sentido: «Gosto muito de você», «Você está linda!».
Querer ser o coach
Com o surgimento dos cursos de preparação para o parto que sugeriam técnicas especiais de respiração no meio do século passado, o papel do pai no parto passou a ser de orientador. Pedia-se ao homem que aprendesse também a respirar e que lembrasse a mulher das técnicas que tinham aprendido juntos e que a direcionasse como se fosse uma voz de comando. Isso está completamente ultrapassado. As técnicas de respiração orientada já estão desatualizadas (o próprio criador do método – Lamaze – já concordou) e, ao pai, pede-se uma postura de apoio e carinho e não de coach. Frases como «está indo muito bem», «é isso mesmo» ou «está quase» arriscam respostas do gênero «como é que você sabe, se nunca passou por isso?!» ou «você não faz ideia do que é estar no meu lugar!».
Passar o tempo todo tirando fotos ou a filmando
De que adianta gravar o momento mais lindo da nossa vida se não o vivemos intensamente? O pai deve estar presente no parto física e emocionalmente. Como já foi descrito acima, deve entregar-se também ao parto,
estando ao lado da mãe e ouvindo-a atentamente.
Correr para espalhar a notícia
Às vezes, a vontade de gritar ao mundo que nasceu mais um bebê – o nosso bebê – é tanta, que o pai começa a mandar mensagens para toda a família assim que o filho chega ao colo da mãe. Mas não vale a pena a pressa. Vale mais aproveitar estes momentos únicos de amor e contemplação. Até porque, como se sabe, as boas notícias espalham-se depressa.
Amor e paciência
Para a maioria dos homens, o parto não é um lugar confortável.
Por mais que leiam e se preparem, o parto não é um ambiente natural para eles. Por isso, recomenda-se que os homens comecem a se preparar durante a gravidez para assumirem uma posição mais ocitocínica e menos adrenalínica durante o nascimento do filho. A ocitocina é um hormônio que acelera o parto, a adrenalina é um hormônio que faz atrasar o parto. Se o pai tiver uma atitude adrenalínica, ou seja, muito ativo, muito falador, com uma energia muito masculina, pode contribuir de forma negativa para o desenrolar do trabalho de parto. Se, por outro lado, tiver uma atitude mais atenta, mais sensível, mais intuitiva, mais acolhedora, que são características mais associadas às mulheres, pode ser uma ajuda preciosa, pois irá promover a produção de ocitocina. O segredo é acreditar que a mulher é capaz e acompanhá-la apenas com a presença do amor.
É importante que homem e mulher falem muito sobre o parto durante a gravidez. O casal deve falar sobre o que cada um espera do outro e o que podem fazer um pelo outro neste momento que será intenso e imprevisível para os dois.
Mas fica o alerta: Devem também preparar-se para que tudo possa ser diferente. Muitas mulheres acham que vão querer uma coisa durante o parto e, depois, querem outra completamente diferente. Isso é perfeitamente normal e o homem deve ir para o parto contando com esta possibilidade e não levar a mal se isso acontecer.
Portanto, envolva-se nesse parto, abra suas emoções e deixem elas fluírem junto com esse processo entendendo que essa mulher é capaz de dar à luz a esse bebê e que esse momento é um momento muito especial para todos vocês!